domingo, 29 de dezembro de 2013

DESVENDANDO OS MISTÉRIOS DA DOR – ALODÍNIA

Uma dor que aparece quando a roupa encosta na pele ou passamos suavemente a mão na pele ou no cabelo, quando recebemos o famoso “golpe de ar”. Você não imaginaria que isso podia causar dor. E pode sim, muita dor. Chamamos esse fenômeno de Alodínia: outra dor. Separando as palavras temos “Alo / Allo” que significa “outro” e “Dinea / Odyne” que significa “dor”. Português e Grego ao mesmo tempo.

As sensações descritas com a alodínia são chamadas de bizarras, aberrantes, perversas ou anormais, porque não se espera causar tanta dor com um estímulo que normalmente não causa. Pode queimar, arder e espalhar a dor com muita rapidez ou de forma espontânea. Mesmo que a pele esteja normal ou anormal. E depois dizem que depilação dói.

Estamos falando de um problema no sistema nervoso, mais precisamente nos neurônios sensitivos (que geram as nossas sensações como dor, tato, pressão, temperatura), que acontece em doenças, patologias e lesões que envolvem o sistema nervoso: neuralgia do trigêmio, diabetes, síndrome complexa de dor regional, enxaqueca, fibromialgia, lesão medular, lesões de nervos por hérnias de disco. Para lembrar um pouco sobre a dor dos nervos, veja novamente a postagem sobre isso. http://dorescronicas.com.br/quando-a-dor-cronica-e-nos-nervos…/
Esses tais neurônios sensitivos que sofreram lesão são capazes, do nada, de disparar estímulos elétricos através do sistema nervoso autônomo (sistema que manda nele mesmo) para os neurônios vizinhos não lesionados, que certamente estavam dormindo naquela hora. Claro que eles vão acordar reclamando e por isso também disparam esses estímulos elétricos. Eu também iria disparar, além de xingar e jogar um travesseiro. Vida que segue.
Além disso, o sistema nervoso tem que se acostumar com a nova situação dos seus neurônios sensitivos. Para isso tem uma ferramenta altamente especializada chamada plasticidade (cidade de plástico????). Isso foi brincadeira. A plasticidade do sistema nervoso é quando ele consegue organizar novamente cada bagunça que é criada nas mais de 100 bilhões de cômodas (neurônios). Infelizmente as lesões no sistema nervoso na maioria das vezes são irreversíveis e por isso deixa a pessoa mais propensa a ter alodínia.
:. Porque a pele recebe toda a culpa?
Na pele temos vários receptores (sensores) de tato, temperatura, pressão, vibração. Pela lesão no sistema nervoso, os nervos responsáveis pelos sensores de tato (fibra A beta) ficam super sensíveis. Isso é explicado por um fenômeno da plasticidade chamado brotamento ou sprouting, onde os neurônios que moram na medula resolvem fazer suas malas, totalmente insatisfeitos e tornam-se imigrantes ilegais. Eles moravam nos quartos IV e V da medula e mudaram para os vizinhos do I e II, mas só de forma superficial, aparentemente de férias. Lembrando que a medula tem 10 (X) quartos, mas 6 no prédio de trás (lâminas do corno posterior). É melhor chamar de prédio do que de corno. Há! Por essa chegada forçada do IV e V, os vizinhos do I e II simplesmente evadem o local. Chamamos isso de atrofia das fibras C ou mais popularmente de inserção forçada de UPP. HEHE. Relembre as fibras na postagem sobre a velocidade da dor: http://dorescronicas.com.br/a-velocidade-da-dor/
:. De quem é a culpa então?
Lembram que a fibra C é responsável por perceber estímulos nocivos, térmicos? Como não têm mais, as fibras C atrofiaram, agora qualquer estímulo na pele provoca dor, pois a fibra A beta manda no local e informou que prevalece no recinto pela evasão da fibra C.
Tudo pode ser muito simples (roubei do “explain pain”):
- Quando as coisas que costumavam doer, agora doem ainda mais = hiperalgesia, ou seja, o aumento da dor num local que já estava doendo.
- Quando as coisas que não doíam antes, agora doem = alodinia
:. A culpa é do sistema nervoso. Quem se dá mal é a pele.
Para explicar a dor que se espalha na alodínia, vamos usar o termo chamado efapse. Significa que os estímulos dolorosos foram espalhados através de um emaranhado de outros nervos além do seu próprio. Esses outros nervos vão para outros lugares também. Às vezes, podemos ter um estímulo de dor na mão, ele ser aumentado pela alodínia e se espalhar até o rosto, principalmente pela proximidade entre a representação cortical (desenho no cérebro) da mão e face.
É isso ai.

Natal 2013 - UFA - União Família Almeida.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Meu celular, minha vida

Há uma nova doença nos anais da medicina: a nomofobia, o medo de ficar sem celular. O termo foi cunhado no Reino Unido, e deriva de “no mobile phobia”. O fato é óbvio: para qualquer lugar que se olhe, as pessoas estão atentas ao celular – rua, restaurante, local de trabalho, ônibus, metrô, escola, e até igreja.
Não sem razão, a revista Forbes considerou o mexicano Carlos Slim, em 2013, pela quarta vez consecutiva, o homem mais rico do mundo, com uma fortuna calculada em 73 bilhões de dólares. Com negócios na área de comunicação em vários países, no Brasil ele controla a Globopar (Net), a Claro e a Embratel.
O Brasil é o 60º país do mundo mais conectado por celular, e o 4º a dar mais lucros às empresas de telefonia. O brasileiro gasta, em média, 7,3% de sua renda mensal com o uso do telefone móvel. Em julho deste ano, nosso país dispunha de 267 milhões de aparelhos.
Essa fissura de manter o celular ligado o tempo todo –e manter-se ligado ao celular todo o tempo (até na hora de dormir)– se explica pela hipnose coletiva gerada pelas redes sociais.
Uma das anomalias de nossa época pós-moderna é o esgarçamento das relações pessoais e comunitárias. A família tradicional, que se reunia à mesa de refeições ou na sala para conversar, é hoje um bem escasso. As relações matrimoniais mal resistem à primeira crise. Segundo o IBGE, as uniões conjugais duram, em média, cerca de sete anos!
Na opinião de Aristóteles, amizades são imprescindíveis à nossa felicidade. No entanto, nesse mundo competitivo, muitas andam contaminadas por inveja, ciúme, cobranças, ou prejudicadas pela falta de tempo.
Resta então, nesse mar revolto no qual naufragam antigos e saudáveis costumes, a ilha salvadora do celular! O aparelho corresponde muito bem às contradições da pós-modernidade: por ele me comunico, sem conversar; opino, sem me comprometer; me expresso, sem me envolver; troco mensagens e torpedos, sem me doar a ninguém e a nenhuma causa.
O fascínio do celular consiste em amenizar minha solidão sem exigir solidarizar-me. Estou na rede, interajo com inúmeras pessoas e, no entanto, fico na minha, olhando o meu umbigo, indiferente ao fato de algumas dessas pessoas estarem sofrendo ou, pelo menos, necessitando de minha presença física consoladora ou incentivadora.
O celular faz de mim, Clark Kent, um Super-Homem. Eu, a quem quase ninguém presta atenção, agora gozo de um público multimídia ligado no que expresso. Em contrapartida, o celular me rouba tempo: de leituras, de trabalho, de convivência familiar e com amigos. Com ele ligado no bolso ou ao meu lado, fica cada vez mais difícil a concentração.
O celular é um espelho mágico. Repare como as pessoas o fitam. É como se vissem na tela. Por ser um equipamento eletrônico dotado de múltiplos recursos, ele me traz a sensação de que sou um Pequeno Príncipe capaz de visitar sucessivamente diferentes planetas.
No celular eu me enxergo como gostaria que as pessoas me vissem. Com a vantagem de que ele dissimula minha verdadeira identidade, meu modo de ser, permitindo que eu me esconda atrás dele. Ele faz de mim um ser onipresente. O que transmito é captado por uma rede infinita de pessoas que, por sua vez, podem reproduzir a inúmeras outras.
Hoje em dia os consultórios médicos já lidam com crianças, jovens e adultos que padecem de nomofobia. Gente que não consegue se desconectar do aparelho. Vive as 24h do dia ligada a ele.
Ah, como é saudável estar bem consigo mesmo e manter o celular desligado por um bom tempo, sobretudo à noite! Mas isso exige o que parece cada vez mais raro nos dias atuais: boa autoestima, falta de ansiedade, consistência subjetiva, gosto pelo silêncio e uma vida ancorada em um sentido altruísta.
Fonte - Publicado por Frei Betto*
* Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais.
** Publicado originalmente no site Adital.

domingo, 1 de dezembro de 2013