quarta-feira, 14 de maio de 2014

Racismo não pode. Ok. Mas e o machismo?

Racismo no pode Ok Mas e o machismo
Curiosa a reação de alguns dirigentes do Cruzeiro aos erros da auxiliar Fernanda Colombo Uliana no último domingo, no clássico contra o Atlético na Arena Independência. Após um erro crasso da bandeirinha em lance que poderia ter resultado em gol para o Cruzeiro, a revolta tomou conta de Alexandre Mattos, diretor de futebol do Cruzeiro.
É correto bradar contra a arbitragem brasileira, a cada fim de semana acumulando erros e mudando resultados de partidas. Mas é correto julgar o erro de uma auxiliar mulher dando destaques aos atributos físicos dela? “Que vá posar para a Playboy”, disse Mattos. Em fevereiro o Cruzeiro fez bela campanha contra o racismo depois de Tinga ter sido vítima numa partida da Libertadores no Peru contra o Real Garcilaso. Se fosse negro o auxiliar a errar contra o Cruzeiro no domingo duvido que as reclamações teriam algum tom de preconceito como aconteceram contra a auxiliar catarinense somente por ela ser bonita.
Não faltam exemplos de árbitros e auxiliares homens que são alvos da ira de dirigentes após erros recorrentes. Porém em algum desses casos se usa alguma atribuição física desse árbitro para criticá-lo? Confesso que não me lembro de nenhum.
Há os casos dos árbitros Anderson Daronco, o “juiz fortão” ou de Guilherme Ceretta de Lima, o “juiz modelo”, mas nenhum deles quando erra ouve nas críticas que tais equívocos foram cometidos por estarem preocupados “em aparecer”, como aconteceu com Fernanda Colombo nas palavras de Mattos.
O futebol brasileiro é um antro do machismo. Árbitras e auxiliares mulheres já tiveram oportunidades antes de Fernanda Colombo. Erraram tanto quanto seus pares homens. E aí, quando a crítica precisava ser apenas às atuações, como acontece quando o responsável pelo erro é um homem, cai-se no erro absurdo de dizer que o problema é ter uma mulher no futebol.
A imprensa esportiva, não toda, mas em muitos casos, colabora para que se tratem como naturais as palavras do diretor cruzeirense. “Bandeirinha musa mostra demais”, “pose indiscreta”. O jornal “Extra” publicou uma nota em seu site recheado de machismo. O Fabio Chiorino falou em outro texto no Esporte Fino sobre o desserviço prestado nesse caso. Esqueceu-se do compromisso do jornalismo esportivo em mostrar o lance em que Fernanda errou para dar destaque à sua beleza.
Fernanda Colombo já mostrara na quarta-feira passada, em São Paulo x CRB pela Copa do Brasil, que não vive um bom momento técnico. Errou na marcação de impedimentos claros, como o do clássico mineiro. O certo, como em qualquer ramo de atividade, seria afastá-la. Que treine, se recicle, estude as regras. Medida igual a que deveria ser feita com qualquer árbitro homem que cometa falha graves em sequência. O erro também é de quem comanda a arbitragem brasileira, da CBF em escalá-la num jogo grande se está claro que ela não está preparada.
Ana Paula Oliveira teve a carreira encerrada depois de errar em jogos importantes há alguns anos. Virou árbitra de partidas amadoras, de encontros de empresas, jogos festivos. Posou para a Playboy, sim. Mas posar nua não é nenhum demérito. Não foi dada outra chance a ela.
Mas e os árbitros homens que erram? O que acontece com eles? Emerson Augusto de Carvalho, bandeirinha que num clássico entre Santos e Corinthians em agosto de 2012 não viu um triplo impedimento em lance de gol do Santos está escalado para trabalhar na Copa do Mundo. Na época foi achincalhado, afastado, mas teve uma segunda chance. Algo impensado para Fernanda Colombo, que pecou por ser mulher num ambiente machista.

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