Marcelo Odebrecht, empresário
RICARDO
NOBLAT - Noblat@globo.com
Só um
expurgo
político
salvará o país
Governo, Congresso e partidos respiraram
aliviados com o fracasso das
manifestações marcadas para ontem
em defesa da Lava Jato e contra a
anistia ao caixa 2, o voto em lista
fechada e a anulação de delações que
possam comprometer suspeitos de
corrupção. Governo refém do Congresso
depende dele para aprovar reformas.
Congresso refém de delatores
não merece a confiança de ninguém.
Vida que segue.
Em duas ocasiões, na semana
passada, talvez por descuido, o PT
tirou a máscara ao tratar do uso de
dinheiro sujo nas eleições. Relator da
reforma política na Câmara, o
deputado Vicente Cândido (SP)
defendeu que o Congresso enfrente o
desgaste de discutir anistia aos alvos
da Lava Jato como forma de
“distensionar o país”. Em seu site, o
partido postou um estudo que
justifica o uso do caixa 2.
“O que é melhor para a
sociedade neste momento? Até aprovar
uma anistia, seja criminal, financeira,
tudo isso é possível, não é novidade no
mundo”, justificou Cândido. O estudo
da seção mineira da corrente
“Construindo um Novo Brasil”,
majoritária dentro do PT, pretende
“contribuir para o exercício reflexivo”
às vésperas do 6º congresso do partido,
a ser realizado até junho próximo.
“As eleições brasileiras
foram feitas mediante contribuições
não contabilizadas. O PT,
provavelmente, se utilizou das
mesmas regras que os demais
usavam. (...) Como o PT poderia
disputar eleições sem recursos,
enquanto todos os partidos
neoliberais o tinham de sobra? Seria
impossível disputar com chances de
vitória sem os instrumentos
necessários”, sustenta o estudo.
Nem Cândido nem o estudo
se detiveram sobre a verdade
universal de que não existe Estado de
Direito sem justiça e sem eleições
livres e democráticas. E que eleições
corrompidas por qualquer meio,
sobretudo pelo abuso de poder
econômico, podem ser tudo menos
democráticas, livres e justas. Inexiste
o bom e o mau ladrão, a não ser na
cena da morte de Jesus. Mesmo assim
por excesso de bondade do Nazareno.
Em 1994, a poucos meses
de disputar a segunda eleição que
perderia, Lula avisou de público: “Em
princípio, nós não aceitaremos
dinheiro da Odebrecht”. Por que a
princípio? E por que da Odebrecht?
Porque a construtora, na época, já
estava envolvida em escândalos, e
Lula queria marcar distância dela. Em
2002, Lula chamou José Dirceu e
disse: “Só disputo outra vez se for
para ganhar”.
Ganhou, com a ajuda da
Odebrecht. O “partido limpo” beijou a
cruz e chafurdou na lama como os
demais partidos. Se os neoliberais
podiam chafurdar, por que o partido
dos trabalhadores, não? Tudo por
uma boa causa, a de melhorar a vida
do povo. Melhorou – e também a vida
dos que se diziam destinados pela
Providência a tirar o povo da miséria,
do analfabetismo e das doenças.
O “Estado Odebrecht” foi
uma invenção do PT para
permanecer no governo por no
mínimo 20 anos. Com Lula durante
os oito primeiros (deu certo), com
Dilma durante quatro (deu certo) e
com Lula por mais oito. Aí Dilma
estragou tudo. Quis ficar por mais
quatro. E afundou o país na maior
recessão econômica de sua história,
dos anos 30 do século passado para
cá. O resto se sabe.
O que não se sabia com
detalhes se torna conhecido com as
delações de executivos da Odebrecht.
É de arrepiar. Fora da Lava Jato não
haverá salvação. Ou melhor: só
haverá se promovermos em 2018 um
expurgo político extraordinário que
limpe governos, Congresso e
assembleias legislativas.
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