quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Sou jovem, por isso não sou um bom profissional?

Nem toda (quase nenhuma ou nenhuma) generalização é útil. Generalizar é dar voz ao desconhecimento.

Publicado por Gláucia Martinhago Borges 


Certa vez um cliente me confidenciou que, ao contar em uma roda de amigos quem era a sua advogada, outro advogado o indagou se ele "era louco de estar trabalhando num caso tão difícil com uma pessoa assim, jovem".
Não gosto de generalizações.
Reconheço que temos uma parcela da geração de jovens que são sim descompromissados e que não se esforçam o suficiente para entrar no mercado de trabalho com excelência. Como também existem muitos profissionais experientes que não podem ser qualificados como bons tão somente pelos anos de profissão (esse não pode ser o critério exclusivo).
Concordo também que a experiência ajuda e muito na melhoria da profissão, mas, se não deixarmos os jovens tentarem, quando irão adquirir essa experiência?
É incrível como quando estou em um atendimento percebo "o pé atrás" do cliente de início. Quando ele me vê, me julga sem me ouvir e, ao final, comenta sobre essa primeira impressão que teve. Você se impõe, sem dúvidas, faz o seu melhor para demonstrar seu potencial, mas você sempre precisa passar por um processo de convencimento, não porque você não entende da matéria ou não sabe sobre a própria profissão, mas porque é jovem ou aparenta ser (entre outros julgamentos físicos que não pretendo me ater neste momento).
Chego a "brincar" com alguns colegas que se uma pessoa com idade maior que a minha pegou a carteira da ordem juntamente comigo, tem outro respeito do público em geral. As pessoas não o veem como alguém novo ou inexperiente na profissão, quase ninguém questiona há quantos anos a pessoa está na profissão se ela possuir mais idade. E isso faz diferença para se conseguir alguns trabalhos.
Ouço muito a seguinte frase: “olhei a petição contrária e a OAB é de um jovem advogado, então está tranquilo”. Eu sempre questiono quem assim fala se só pelo número da ordem a pessoa já consegue concluir que aquele profissional não possui conhecimento de causa e não lutará com toda garra por seu cliente... (friso aqui que meus exemplos sempre giram em torno da advocacia pois é o que eu vivencio mas, sem dúvidas, isso vale para qualquer profissão).
Com esses pensamentos à mente, trouxe o assunto a tona em uma reunião e me disseram que eu deveria me acostumar “pois é assim em qualquer profissão”. Concordo, mas não me conformo.
Se a questão é cultural, porque não tentarmos campanhas, publicarmos textos, conversamos com nossos familiares, entre outros meios, para demonstrar que não devemos julgar a capacidade de ninguém por sua aparência ou idade?
Nelson Rodrigues dizia que “toda unanimidade é burra”. Generalizar com base em alguns tira da pessoa a capacidade na construção de um bom argumento.
Enfim, sou da seguinte opinião: Conheçam o profissional, sendo ele iniciante ou não na carreira, independente de qualquer estereótipo. Só depois então tirem suas próprias conclusões (e não a de terceiros).
Se mesmo tentando vocês não gostarem da sua metodologia de trabalho ou não se sentirem confiantes naquilo que o profissional lhe oferecer, ai sim, busquem outro, mas não tratem todos da mesma forma por conta deste, pois o bom mesmo é ter certeza do que se afirma e se você não conhece a todos, não generalize.

Gláucia Martinhago Borges
Advogada.
Graduada em Direito pela Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC.

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