A vida de Vera* (o nome foi trocado a seu pedido), uma arquiteta de Campinas, São Paulo, tinha tudo para estar às mil maravilhas. Há seis meses, ela se mudou com o namorado para um apartamento que estão pagando juntos. Os dois estão juntos há três anos e o relacionamento quase não tem brigas. Mas agora que estão atravessando juntos os primeiros dias frios da vida comum, ela não consegue espantar um pensamento que frequenta sua mente: por que ele gosta de dormir só na parte de dentro da conchinha?
“Eu já perguntei para muitas amigas, para amigas de amigas, para amigos, para estranhos no shopping, e até agora ninguém disse nada com nada”, lamenta-se Vera. “As pessoas olham para mim com um semblante sem expressão e murmuram alguma coisa, depois abaixam a cabeça e mudam de assunto. Estou começando a achar que tem alguma coisa muito estranha”, diz.
Vera desconversa quando perguntada, afinal, o que ela acha que pode ser tão estranho. “Bom, é que”, diz ela, gaguejando. “Veja bem, eu, atrás dele, não…”, continua, sem conseguir prosseguir. “Só sei que eu acho estranho, não é? É estranho, né? Ele só consegue dormir se estiver na parte da frente. Vou perguntar para mais gente.”
M Zorzanelli
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