QUINTA, 13 DE ABRIL DE 2017
POLÍTICA
merval@oglobo.com.br
MERVAL
PEREIRA
Lula agora será investigado por
vários inquéritos, já sendo réu
em pelo menos cinco processos
As setas
apontam
Lula
Para os que alegam em sua defesa
que as delações premiadas são fantasiosas,
o coordenador da força-tarefa
da Operação Lava Jato, procurador
Deltan Dallagnol, tem um dado
incontestável: até hoje, nos três anos
de investigações, não houve um só
delator que tivesse mentido.
Com cruzamentos de dados e planilhas,
e em muitos casos provas como
número da conta no exterior ou
vídeos que mostram o sujeito da propina,
ou um seu preposto, saindo de
reunião na sede da empresa com uma
mochila, é possível constatar a veracidade
das informações.
A teia de informações a essa altura
disponível aos integrantes da Opera-
ção Lava Jato é muito grande, e somente
ela permite checar as informações,
com provas indiciais suficientes
para uma conclusão.
Quem se dispôs a ver os vídeos
com os depoimentos de executivos da
Odebrecht, e em especial os dois comandantes
do grupo, Emílio e seu
filho Marcelo, deve ter se espantado
com a tranquilidade com que abordam
os temas mais delicados, como o
projeto de controlar o setor petroquímico,
ou a ajuda ao filho de Lula
na empresa esportiva que tentava difundir
o futebol americano no país.
Lula atuou para impedir que a Petrobras
adquirisse ativos da Ipiranga a
que tinha direito, garantindo que o
grupo Odebrecht mantivesse a hegemonia
do setor, em detrimento do
interesse da estatal.
É Emílio Odebrecht quem relata:
“Compreendo que nossa presteza e o
nosso volume de pagamentos feitos a
pretexto de contribuição para campanhas
eleitorais contribuíram para a
continuidade da privatização no setor
petroquímico e nas decisões que tanto
o ex-presidente Lula quanto outros
integrantes do PT tomaram durante
sua gestão, que foram coincidentes
com os nossos interesses e fundamentais
para o crescimento e consolida-
ção da Braskem.”
Também é de Emílio o relato sobre
a proposta de ajudar um dos
filhos de Lula. Ele conta que Lula,
em certo período, sempre que se
encontravam reclamava de Marcelo,
dizendo que a então presidente
Dilma Rousseff não se dava bem
com ele. Emílio propôs então uma
trégua: Lula ajudaria seu filho a ter
uma boa relação com Dilma, e em
contrapartida ele ajudaria o filho
do ex-presidente a desenvolver seu
negócio.
Uma ajuda de pai para
filho, nos dois sentidos.
Durante vários anos, a Odebrecht
pagou uma mesada de cerca de
R$ 50 mil ao filho de Lula, além de
ajudá-lo na organização da empresa.
Houve também um pedido especial
de Lula: que ajudassem o seu
irmão Frei Chico. Também deu certo:
durante os 13 anos de PT no
poder, o irmão de Lula recebeu
uma mesada de R$ 5 mil, que era
reajustada a seu pedido de tempos
em tempos.
A promiscuidade era tamanha
que Emílio Odebrecht pediu a Lula
que segurasse seu pessoal: “Eles
têm a goela muito grande”.
São exemplos simples de como os
negócios pessoais de Lula se confundiam
com as decisões do governo,
sempre em detrimento da Petrobras
e das estatais brasileiras. Era
uma privatização branca, sem as
vantagens das privatizações verdadeiras,
com todas as desvantagens
para o país dos negócios corruptos.
Além de confirmarem todas as denúncias
que há anos estão sendo reveladas,
desde o sítio de Atibaia até o
terreno do Instituto Lula e as palestras
para compensar, segundo outro diretor,
Alexandrino Alencar, os favores que
Lula fez para a empreiteira nos anos
em que foi presidente.
Lula agora será investigado por vá-
rios inquéritos, já sendo réu em pelo
menos cinco processos. Muito difícil
para ele continuar a garantir que tudo
não passa de uma invencionice dos
Odebrecht e seus executivos.
Os detalhes são tantos, os delatores
tão variados, que necessariamente
as setas de um PowerPoint
metafórico apontam para Lula no
centro das atividades ilegais, que
estão sendo reveladas a cada dia
com mais ênfase.
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