quarta-feira, 4 de março de 2015

A verdadeira cor do vestido e a consagração da banalidade.

A sociedade contemporânea e seu engajamento nas questões fúteis.

Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e setas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provações e em luta pôr-lhes fim? Morrer... Dormir: blá, blá blá, blá, blá, blá...”
Convenhamos! Esse clássico conflito filosófico é para os fracos. Não se compara com as questões mais profundas que dizem respeito à COR DO VESTIDO.
Estima-se que mais de 27 milhões de pessoas no mundo inteiro opinaram acerca da foto polêmica. No Twitter Brasil, em apenas 10 horas, já ultrapassava 700.000.
Na manhã de sexta-feira já era trending topic também em espanhol e em várias partes do mundo.
Não questiono o fenômeno das redes sociais e vejo sempre pelo lado positivo os avanços tecnológicos. Ontem de madrugada, por exemplo, passei 40 minutos trocando "zap's" com um parente que está nos Emirados Árabes.
E os “memes” que se criaram em torno disso. Maravilhosos! Chorei de rir.
O que causa perplexidade é a consagração da banalidade, aliado a um desprezo visceral com assuntos que demandam maior posicionamento.
Ameaças de terrorismos na Europa, cabeças sendo cortadas no Oriente Médio, aldeias cristãs queimadas na Nigéria ou instituições financeiras ligadas ao narcotráfico aparentam ser assuntos de somenos.
No Brasil a ameaça de Impeachment, os escândalos de corrupção, greves e a crise no abastecimento de água nunca tiveram tamanha repercussão do que o decifrar desse enigma: o vestido é branco e dourado ou preto e azul?
Para muitos soa utopia imaginar que a simples opinião sobre questões politicas, sociais ou religiosas mudará o rumo como caminham às coisas. Confesso que, não raras vezes, também me surge essa mesma incredulidade.
Entretanto, é inaceitável reduzir-se a um conformismo medíocre ao ponto de provocar insensibilidade quanto a crises sociais que a todos atinge.
A verdade é que, salvo raríssimas exceções, uma parcela majoritária da população simplesmente ignoram os reais problemas do mundo!
Afinal, de uma sociedade tão engajada nas questões fúteis, o que se esperava aconteceu: mobilizaram-se maciçamente para opinar sobre tão irrelevante assunto.
“Ser ou não ser”, preto ou branco, dourado ou azul. Com um tema dessa magnitude, Willian Shakespeare morreria de ingurgitação cardíaca.

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