segunda-feira, 8 de junho de 2015

O desabafo: "Não me submeterei a honorários fixados em 17 reais e triunfarei na Advocacia! Quem viver, verá"!

Uma crítica aos míseros honorários ofertados aos advogados brasileiros.



Publicado por Fátima Burégio

Um artigo publicado esta semana no JusBrasil ¹ me fez ficar mais reflexiva e obstinada a ser uma advogada, digamos, ousada e diferente. Trata-se da notícia de que há escritórios recrutando advogados para participarem de audiências trabalhistas e perceberem meros 17 reais pelo ato.
Sim, não errei na digitação: são ofertados apenas a merrequinha de 17 reais por audiência. Escritórios pagam, de forma cínica e inoportuna, honorários míseros a advogados profissionais que estejam dispostos a participarem de audiências trabalhistas percebendo a bagatela que mal dá para comprar um sorvete top aqui na capital pernambucana.
O interessante nesta história é que, infelizmente alguns advogados estão aceitando a indecente proposta, pois se formaram, meteram o canudo debaixo do braço, mas perceberam de plano que o negócio aqui do lado de fora da universidade é feio para chuchu e o jeito é 'alisar a cara' e se submeter aos infames honorários ofertados pelos sanguessugas do meio jurídico.
Estava conversando com minha faxineira e perguntei para ela se por menos de 80 reais ela faria a faxina numa casa de 2 quartos e ela me disse: Jamais, dona Fátima! Somos uma classe unida e nós tabelamos nossos preços. O patrão pode até não gostar, mas sempre cede, pois ele precisa...
Balancei a cabeça e pensei: meu Deus, minha faxineira, se fizer duas faxinas pequenas durante o dia, recebe mais que minha classe e ela nem estudou tanto quanto eu...
Olhei para um Vade Mecum que dorme ao meu lado, contemplei em pensamento o diploma que receberei em breves dias, e pensei: Comigo não, violão! Aqui a banda toca diferente! Não alisei banca de universidade por longos 5 anos para receber honorários de 17 reais, de jeito nenhum! Farei a diferença!
Saí determinada a conversar com amigos advogados já tarimbados e percebi que o negócio é bem mais sério de que eu imaginava: - Fátima, precisamos nos unir mais... Advogado precisa sentir a dor do colega, precisa não se submeter à propostas indecorosas, mas infelizmente, o sistema é quem dita as regras, menina! Você ainda é "novinha"... Vai aprender!
Meio atarantada, revoltada e obstinada, decidi que eu, "euzinha da Silva" não me submeterei a 'merrequinhas' de 17 reais e farei o que for possível para que meus clientes atentem para a grandeza de serem assistidos por uma advogada da minha envergadura, pois sempre idealizei ser uma advogada compromissada com os ideais de justiça e para que isto ocorra, é imprescindível que eu promova justiça inicialmente a mim mesma, vez que se eu aceitar uma proposta indecorosa desta, comungando com a bagatela de "17 contos por audiência", estarei praticando a injustiça que tanto abomino e repudio.
Advogados brasileiros, pensem nisto: se nós nos unirmos e dissermos um sonoro "não" aos abutres do meio jurídico, livraremos nossa pelé, seremos melhores reconhecidos e justamente remunerados.
Custa nada sonhar!
Irreverente que sou, conversando com um renomado advogado, amigo e confidente, alfinetei: Pra ganhar 17 reais numa audiência, lanço o diploma na lixeira mais próxima, vou vender água de coco na praia de Porto de Galinhas, viver bronzeada, sem estresses e com a certeza de faturar mais que o vendedor de sorvetes e a moça da faxina.
(1) Artigo mencionado no texto

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