sexta-feira, 12 de março de 2010

Crônica do dia - 12-03-2010

Sabedoria dos mais velhos.

Eu sou do tempo em que a gente crescia ouvindo que devíamos respeitar os mais velhos. Eu chamava até as primas de minha mãe de ”tia” e “senhora”. Os “mais velhos” sempre tinham razão, por motivos aparentemente insondáveis. Os mais velhos tudo sabiam e sua quilometragem na vida dava, automaticamente, um sentido de certeza absoluta aos seus comandos e vaticínios.

Mas eu também fui ensinada a pensar e questionar, então, num determinado momento, acho que minha cabeça de criança atribuiu uma sabedoria implícita — embora inexplicável — às atitudes dos mais velhos, até porque me diziam que quando eu crescesse (no início) ou ficasse mais velha (depois que minha estatura começou a aumentar muito rápido) eu iria entender.


Assim, acabei por atribuir, muitas e muitas vezes, quase uma visão profética às atitudes dos mais velhos que, naquele momento da minha vida, não faziam o menor sentido lógico ou, de fato, demonstravam apenas mesquinhez, orgulho, vaidade e ciúme. Não me parecia possível que aquele mais velho, com tantos anos vividos, não tivesse aprendido algo, não tivesse a percepção da realidade, não tivesse humildade para admitir que não sabia, que estava inseguro e com medo. Então, aquela atitude, naquele momento, seria explicada para mim, num futuro, quando as conseqüências daquele ato, aparentemente vil, apareceriam, como flores perfumadas.


Acontece que o tempo passa, por óbvio, para todo mundo e, inclusive, para mim. Então fiquei eu esperando que a afamada sabedoria implícita dos “mais velhos”, tão decantada em minha infância, também caísse como um manto sobre os meus ombros. Por certo não fiquei sentada esperando isso e, como a vida ia passando, fui tratando de aprender o que podia, e repetindo lições quando falhava, até aprender alguma coisa.


Mas aquele instinto da certeza absoluta que era atribuído aos “mais velhos” nunca me apareceu: eu continuo me sentindo insegura, triste e carente, às vezes. Continuo tendo que ultrapassar meus limites, meus medos, meus preconceitos. Continuo tendo que vigiar minha vaidade, meu orgulho, meu egoísmo. Tenho que botar meu gênio sob rédeas curtas, meus amigos, porque o passar do tempo me deixou mais paciente para algumas coisas, mas muito mais impaciente para outras. Minha ansiedade ainda é descarregada no meu vício — eu adoro — tomar uma cervejinha.


Conseqüentemente, agora que eu estou quaaaaaaaaase também uma “mais velha” (o meio século bateu à porta), digo aqui para vocês baixinho que perdi o respeito pelos mais velhos. Não sei se porque os acho quaaaaaaaaaase meus iguais — e se têm 20 ou trinta anos mais do que eu e ainda não se consertaram... sinto muito — ou se porque cansei de esperar que as flores perfumadas aparecessem.


Enfim: o manto de sabedoria ainda não aquece meus ombros, mas talvez os óculos de leitura tenham me feito enxergar melhor as coisas...


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