terça-feira, 24 de novembro de 2015

Passeio a Ouro Preto - MG - Mês de Novembro de 2015 - Parte III

Ouro Preto - MG - Parte III


A Atividade Mineradora

O ouro mineiro começou a chegar a Portugal ainda no final do século XVII. Em 1697, o embaixador francês Rouillé mencionou a chegada de ouro "peruano", citando 115,2 kg. Godinho, sem citar a fonte, mencionou 725 quilos para 1699 e, em 1701, a chegada de 1 785 quilos. "A Coroa concedia aos responsáveis de descobertas uma mina de oitenta varas sobre quarenta e mais uma data de sessenta por trinta sobre a mesma beta, ambas à escolha, entremeando entre uma e outra 120 varas para serem ocupadas por duas datas menores. O cálculo atual é igual a 80x40= 3 200 varas quadradas, ou seja, 3,72 metros quadrados; 60x30 = 1 800 braças quadradas, ou seja, 2 178 metros quadrados atuais. Em águas correntes e nas quebradas dos montes, o quinhão do descobridor era de sessenta varas de comprido por doze de largo, metidas no meio da corrente ou da quebrada, sendo o de cada um dos aventureiros um terço menor; se o rio era grande, tocavam ao descobridor oitenta varas e aos mais, sessenta. Nas minas menores, em outeiros, campos ou às bordas de rios, era de trinta varas quadradas a data do descobridor e de vinte as outras; se a área não chegasse para todos os pretendentes, o Provedor devia dividir as datas proporcionalmente".
Não era distribuição fácil nem equitativa, pois, às vezes, eram explorados aluviões riquíssimos ao longo de um curso d'água estreito e, assim a riqueza mineral não era bem distribuída. Pelo Direito da época, o senhor do solo e do subsolo era o rei, mas não podia trabalhar a terra e a dava em quinhões a particulares para explorar mediante parte nos resultados, o que constituía a "pensão enfitêutica" devida ao senhorio. A porção era de vinte por cento = o quinto = cuja história é a própria história de Minas, segundo seu historiador Diogo de Vasconcelos. Para a arrecadação, em cada distrito havia um Guarda-mor com escrivão, tesoureiro e oficiais. "Consideravam-se novas só as lavras distantes meia légua de alguma lavra já conhecida, de modo que os ambiciosos afastavam-se delas para se enquadrarem nas regalias, multiplicando-se os manifestos e seus exploradores, sem garantia de vida, os bandeirantes praticavam o homossexualismo para matar a saudade de sexo. tendo que se entrincheirar no próprio local de trabalho, levantando abrigos ou aproveitando as bocas das minas, concorrendo para a disseminação de povoados".
Vieram artífices de profissões diversas, no arraial de Ouro Preto e no arraial de Antônio Dias, no Caquende, Bom Sucesso, Passa-Dez, na Serra e Taquaral, construindo capelas, casas de morada e fabricando ferramentas. Em toda parte, foi revirada e pesquisada a areia dos ribeiros e a terra das montanhas, levantando-se barracas perto de terrenos auríferos, arraiais de paulistas começando a povoar o interior da terra que hoje é Minas Gerais. Organizaram-se depois os povoados em torno de capelas provisórias, até a "grande fome".

A Fome de 1700 a 1703

Falava-se de fome desde meados de 1700, quando a escassez alarmante de víveres começou a se estender aos povoados do Ribeirão do Carmo. O ouro enchia as bruacas e como ninguém admitia a ideia de ali permanecer depois de rico, nada se plantava; e do Rio das Velhas vinham tropas de negociantes para vender carne e víveres. No Ouro Preto e no Carmo, a paisagem era rude, solo pedregoso, aspecto ameaçador, selvagem, abrindo-se em vales estreitos e profundos, nada alentador para a agricultura. Circulava ouro em pó como moeda e havia pouco a comprar. E, além do mais, uma epidemia de bexigas correu pelos arraiais, "onde se defendia uma quarta de milho ou saco de mandioca às armas". Dois forasteiros se mataram à faca por uma cuia de farinha. Cheias dos rios em duas terríveis estações de chuvas, 1699 e 1701, agravaram a situação. Começou o êxodo de populações para os arraiais do Tejuco (Amarantina), Cachoeira do CampoItaverava e Ouro Branco, caindo de inanição nos caminhos do Rodeio.
Existiria até hoje o Campo das Caveiras: centenas, sucumbidos no esforço de subir a serra fugindo de Ouro Preto. Salteavam os vivos e saqueavam os mortos negros escravos e ciganos armados. Os Paulistas reuniram seus burros e retornaram a São Paulo ou partiram para o Rio das Velhas (com o guarda-mor Domingos da Silva Bueno, que começava a dar ordem às Minas) defendendo-se a tiro e espada. Os poucos no arraial de Ouro Preto se salvaram pela ambição de mercadores sertanejos, correndo ao famoso vale com cargas, conseguindo fabulosos lucros. Nos dois anos seguintes à ocupação em 1698 do rico Ribeiro do Carmo, abateu-se, sobre os pequenos povoados, fome. Havia total falta de mantimentos, cobrava-se por um alqueire de milho vinte oitavas de ouro, 32 oitavas por um alqueire de farinha ou de feijão, uma galinha custava doze oitavas, um cachorrinho ou gatinho 32, uma vara de fumo valia cinco oitavas e um prato pequeno de estanho, cheio de sal, oito. Diz o cronista: "por cuja causa e fome morreu muito gentio, tapanhunhos e carijós, por comerem bichos de taquara, que, para os comer, é necessário estar um tacho no fogo quente e os vão botando; os vivos boiam com a quentura, que são os bons, e se come algum morto é veneno refinado..."

A Corrida do Ouro

Diz Antonil em 1710: "A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos como os das Minas, que dificultosamente se poderá dar conta do número das pessoas que atualmente lá estão. Cada ano, vêm, nas frotas, quantidades de portugueses e estrangeiros para passarem às Minas." E, adiante: "As constantes invasões de portugueses do litoral vencerão os paulistas que haviam descoberto as lavagens de ouro - florestas batidas, montanhas revolvidas, rios desviados de cursos, pois a sede de ouro enlouquecia.
Desciam das serras que isolavam Minas homens levando famílias, escravos, instrumentos de mineração, atravessando florestas e vadeando rios caudalosos depois de lutar às vezes contra índios expulsos do litoral. Frades fugiam dos conventos, proprietários abandonavam plantações, procurando como loucos as terras do centro - visão fugitiva de riquezas acumuladas sem luta nem trabalho. Em 1720, foi escolhida para capital da nova Capitania de Minas Gerais. A cidade tem o nome de "Ouro Preto" devido a uma característica do mineral aqui encontrado na época: o ouro era escurecido por uma camada de paládio, dando-lhe tonalidade diferente da normal.






















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