quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Vale doou para metade da comissão do Rio Doce

Guerino Zanon, coordenador do grupo, recebeu R$ 98 mil

Os novos membros da Comissão Interestadual Parlamentar (Cipe) para desenvolvimento sustentável da bacia do Rio Doce, formada por deputados estaduais de Espírito Santo e Minas Gerais, foram eleitos nesta quarta-feira (18), em Belo Horizonte.
Cabe aos 21 titulares e suplentes atuar na preservação e recuperação da bacia, tarefa ainda mais fundamental em virtude da tragédia provocada pelo rompimento das barragens da Samarco, em Mariana (MG).
Acontece que, na campanha eleitoral do ano passado, 12 deles receberam da mineradora Vale – e de cinco empresas controladas por ela –, R$ 388,7 mil. A Vale detém 50% das ações da Samarco, empresa que não aparece como doadora de campanha a políticos, conforme as prestações de contas dos candidatos.
As doações são legais, informadas pelos candidatos à Justiça Eleitoral e seguem as normas de transparência. Aparecem, inclusive, quando o recurso da empresa é repassado indiretamente do candidato ou do partido beneficiário original a outro.


Dos seis titulares do Espírito Santo, quatro foram financiados pela companhia. Entre eles, Guerino Zanon (PMDB), eleito coordenador regional da Cipe Rio Doce. Ele recebeu R$ 98 mil da Vale Energia S/A.
“O repasse foi do meu partido. Em nenhum momento vou me acovardar e deixar de brigar pelas coisas do Estado, independentemente de quem me ajudou na campanha. Esse é posicionamento dos deputados da Cipe. Sabemos da importância de uma Samarco, de uma Vale, mas não estou preocupado com o que vai acontecer com elas. Estou preocupado com o povo”, alega.
A nova presidente da Cipe, a deputada mineira Celise Laviola (PMDB), também saiu em defesa do compromisso dos deputados. “De forma alguma a isenção da comissão está comprometida”, disse. Ela usou na campanha R$ 165 provenientes da Mineração Corumbaense Reunida (MCR), outra controlada pela Vale.
A eleição dos novos membros da Cipe foi realizada na Assembleia de Minas Gerais. Em seguida, ocorreu uma audiência pública para tratar dos impactos no Rio Doce. A reunião foi a primeira do ano, 13 dias após o desastre.
Retomada
A Cipe existe desde 1999. Perdeu força em 2013, com a morte do então deputado mineiro José Henrique Lisboa. Celise confirmou que a comissão estava desativada e parlamentares não souberam informar quando foi a última reunião. “Não sei o que fez com que isso acontecesse (a interrupção). Estou no meu primeiro mandato. Da minha parte, desde o começo do ano estou trabalhando para reativá-la”, disse Celise.
Entre as primeiras ações definidas pela comissão está a realização de visitas técnicas a cidades capixabas e mineiras afetadas pela lama, e ao Instituto Terra, do fotógrafo Sebastião Salgado.
Os deputados também pretendem estudar a possibilidade de levar para outras cidades a tecnologia usada por Governador Valadares para tratar a água misturada aos rejeitos de minério.
Dos 30 deputados, 14 tiveram ajuda de empresas
Dos 30 deputados estaduais do Espírito Santo, 14 foram ajudados por recursos da mineradora Vale e de empresas controladas por ela para realizarem suas respectivas campanhas eleitorais, em 2014.
Os valores estão nas prestações de contas dos então candidatos, que foram apresentadas à Justiça Eleitoral.
Os 14 parlamentares receberam, ao todo, R$ 835.873,00 para usarem nas campanhas.
O menor montante foi repassado a Rodrigo Coelho (PT), R$ 2.096. O maior, a Hércules Silveira (PMDB), R$ 205 mil. O peemedebista costuma dizer que as doações não removem a imparcialidade dele, que assinou pedidos para aberturas de CPIs do Pó Preto na Câmara.
Luzia Toledo (PMDB), a ex-coordenadora regional da Cipe Rio Doce, recebeu R$ 119,5 mil.
As doações são permitidas pela legislação eleitoral e estão disponíveis aos cidadãos no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Fonte: GAZETAONLINE

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