Em
Pedra Branca (CE), com pouco mais da metade dos 40 mil habitantes
alfabetizados, uma escola se destaca como uma das melhores do país*
Por
Gabriela Portilho, Renata Massetti, Thaís Zimmer Martins
Editado por
Tiago Jokura
Atualizado em
10/12/2015.
* A SUPER viajou a convite da Fundação Lemann,
realizadora da pesquisa Excelência com Equidade com apoio do Itaú BBA e
do Instituto Credit Suisse Hedging-Griffo
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"Se você chegar à nossa escola não vai ver nada de anormal. Salas
e laboratórios são pequenos, a merenda é simples e não há grandes
eventos. Mas a educação daqui marca a vida de quem passa", diz Amaral
Barbosa, diretor da Escola de Ensino Fundamental (EEF) Miguel Antônio de
Lemos, em Pedra Branca (CE), a 260 km de Fortaleza.
A "escola de Amaral", como é conhecida, não aparece no
GPS. Fica em um sítio a 18 km da cidade, no meio do sertão. Porcos,
jumentos e bois rodeiam a escola, e a agricultura local é de
subsistência, com vários alunos ajudando os pais - na maioria, não
alfabetizados - na lavoura.
Desmistificando a ideia de que o mau desempenho do ensino
está ligado à baixa educação dos pais ou ao nível socioeconômico local, a
escola tem um dos melhores desempenhos no Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB) do Brasil, com nota 8,9 para o 9º ano. A média
nacional é 4,2. A média das escolas particulares brasileiras é 5,9.
A escola é uma família
Amaral atribui os resultados à estreita relação entre a
escola e a comunidade. Ele próprio carrega a escola no DNA: é bisneto do
seu Miguel, que nomeia a escola - outros 15 professores também são
descendentes do seu Miguel. A eles juntou-se um time de voluntários da
comunidade, que une esforços para tornar a escola mais agradável. Cada
um ajuda como pode: o motorista do pau de arara (transporte escolar da
maioria dos alunos) dá aulas de baixo, um dos pais ensina sanfona e o
professor de história e geografia empresta a bateria para os alunos
aprenderem.
Nos finais de semana, a quadra esportiva vira salão de
festas para batizados e casamentos e recebe em troca pequenos serviços,
como um reparo feito por algum pai que seja pedreiro, ou um desconto nas
roupas de formatura dado por uma mãe costureira. Tudo isso ajuda a
fechar as contas da escola, que se mantém com apenas R$ 4 mil anuais de
orçamento para compra de materiais didáticos e de limpeza.
Para a coordenadora pedagógica Bruna Barbosa de Lima, além
do apoio material, a proximidade com a comunidade envolve os alunos e
os faz respeitar os mestres. "A escola é tratada como algo muito
importante. E isso se reflete no índice zero de evasão. Todos entendem a
importância de estar aqui".
Os pais são tão participativos que decidem com
coordenadores e professores o currículo pedagógico a cada ano. "Vários
não sabem escrever o nome, mas sabem o que é IDEB, compreendem a
importância das avaliações e das etapas de ensino", explica Amaral.
Maria Neci Lira Lemos, mãe de 6 filhos, é agricultora e
cursou até a 4a série. Hoje trabalha com a produção de mamona para
biodiesel, e mesmo morando longe da escola, faz questão de acompanhar o
desenvolvimento dos filhos. "Como é que posso mostrar para meus filhos a
importância da escola se eu também não estiver presente dentro dela?",
questiona.
Para os alunos que não tem a sorte de contar com a participação dos pais, a escola promove o programa Adote um Aluno,
em que cada professor anonimamente se responsabiliza por acompanhar o
desenvolvimento de uma criança cuja família não seja presente. "A escola
não pode passar a vida reclamando a falta da família dos alunos, mas
pode criar mecanismos para minimizar as consequências dessa falta. O
importante é que o aluno sinta-se acompanhado e fazemos isso inclusive
nas nossas horas vagas", explica o diretor Amaral.
Outro projeto que sempre está no currículo escolar é o de
leitura. Anualmente, ele se renova, mas o objetivo permanece o mesmo:
formar alunos críticos. Entenda:
Pelo desempenho, a escola recebeu por sete vezes o prêmio estadual Escola Nota 10, que gratifica com R$ 2 mil por aluno os melhores colégios do Ceará. No entanto, só recebe em mãos 75% do valor. O restante só vem quando a escola ajuda uma outra da região a melhorar seus índices. "Todos têm que crescer juntos, em rede. Se eu ajudo uma escola que alfabetiza, melhoro também a qualidade do aluno que chega à minha, e assim toda a educação se eleva", sustenta Amaral.
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