quarta-feira, 19 de outubro de 2016

PRIMEIRA CLASSE QUASE DESAPARECE NAS COMPANHIAS AÉREAS

Sucesso no passado, cabines de alto luxo hoje estão limitadas a poucos assentos e perdendo espaço para a classe executiva, mesmo aeronaves de grande porte.


Desde os anos 1980, as cabines de primeira classe vêm perdendo passageiros para a classe executiva (Lufthansa)

Desde os anos 1980, as cabines de primeira classe vêm perdendo passageiros para a classe executiva (Lufthansa)
Viajar na cabine de primeira classe de um avião comercial é um privilégio que poucos passageiros têm acesso. Além da barreira do preço, com bilhetes que beiram os R$ 20.000, esses espaços têm poucos assentos, geralmente menos de 10 “leitos”. No entanto, nos últimos anos esse luxo aéreo vem perdendo espaço e em muitos países, como no Brasil, foi completamente extinto pelas companhias aéreas.
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A Tam, hoje Latam Airlines, foi a última empresa brasileira que operou aeronaves com cabines de alto luxo. O serviço, encerrado em novembro de 2014, era oferecido nos jatos Boeing 767 e 777, e no Airbus A330. Com a alteração, a companhia pode aumentar as cabines econômicas e a classe executiva, principal responsável pela redução da primeira classe.
“A qualidade da classe executiva melhorou muito nos últimos anos e isso fez a procura pela primeira classe diminuir. Primeiro, as cabines foram reduzidas e depois acabaram extintas em determinadas rotas, devido a baixa demanda”, explicou Dilson Verçosa Junior, diretor regional de vendas da American Airlines, uma das poucas empresas que ainda oferecem voos em primeira classe para o Brasil – a AA opera o Boeing 777 com 10 assentos de primeira classe na rota São Paulo – Nova York.
“Esse tipo de serviço hoje compete com voos fretados em aviões executivos. A tendência é que a primeira classe diminua, mas ela não vai acabar”, prevê o diretor da American Airlines.
Quem viaja de primeira classe?
A primeira classe é vista como um luxo, mas ela também funciona principalmente como ferramenta de trabalho para altos executivos que viajam constantemente. O assento nesta parte do avião reclina até virar uma cama, onde o passageiro pode dormir como se estivesse em casa e chegar ao destino do outro lado do mundo descansado. Ou então, aproveitando a conexão de internet via satélite, pode continuar trabalhando durante o voo. “No Brasil, esse serviço é adquirido na maioria dos casos por clientes corporativos”, revelou Verçosa.
As poltronas de primeira classe podem reclinar até virar camas (American Airlines)
As poltronas de primeira classe podem reclinar até virar camas (American Airlines)
A cabine de alto luxo é sempre instalada da parte frontal do avião, justamente a mais silenciosa. Além das diversas possibilidades de ajuste da poltrona, os passageiros de primeira classe viajam em divisórias, para maior privacidade, os chamados “leitos”. Já o serviço de bordo oferece diversas opções de comidas e bebidas para diferentes gostos e paladares, e mais requintadas que as oferecidas no “fundão” da aeronave. Algumas companhias ainda presenteiam os ocupantes com pijamas e pantufas especiais.
O sistema de entretenimento basicamente é o mesmo oferecido nas demais classes da aeronave, mas na “first class” a tela é bem maior, assim como a resolução, e a qualidade de som dos fones é superior. Outro diferencial é o “carinho” dos comissários, que atendem prontamente os poucos e exigentes passageiros de primeira classe.
Os passageiros da cabine “premium” ainda têm facilidades como prioridade no embarque e desembarque, possibilidade de levar mais bagagens e raramente enfrentam filas nos toaletes da aeronave.
Porém, boa parte das qualidades da cabine de primeira classe migraram para a executiva, levando junto muitos dos antigos passageiros mais abastados.
Evolução da classe executiva
A primeira companhia aérea que equipou suas aeronaves com classes executivas foi a Qantas, da Austrália, em 1979. A empresa criou a nova seção entre a primeira classe e a econômica, também levando em consideração as zonas mais silenciosas do avião. Esses eram também os últimos capítulos da “era de ouro” da aviação comercial, quando os aviões eram praticamente divididos meio a meio entre a primeira classe e a econômica.
Lounge a bordo de um Boeing 747, na parte superior da aeronave (Domínio Público)
Bar e Lounge a bordo de um Boeing 747, na parte inferior da aeronave (Domínio Público)
Justamente no ano em que a classe executiva foi criada, a Varig foi premiada como a melhor companhia aérea do mundo, pela revista norte-americana Air Transport World. A empresa brasileira oferecia um refinado serviço de bordo, mesmo na classe econômica.
A classe executiva, normalmente com cerca de 30 assentos, reduziu drasticamente o tamanho da primeira classe, que nos anos 1960 e 1970 tinham bares, lounges e até música ao vivo. Em contrapartida, os preços para um voo com maior conforto e melhor serviço de bordo foram reduzido na mesma proporção.

Classe executiva da Hawaiian Airlines, inspirada em recife de corais... (Hawaiian Airlines)
Classe executiva da Hawaiian Airlines, inspirada em recifes de corais (Hawaiian Airlines)
No Brasil, o preço de uma passagem ida e volta de classe executiva para Europa com a Azul ou a Latam, únicas empresas nacionais que oferecem essa opção, varia de R$ 4.000 a R$ 5.000, cerca de um triplo do valor do bilhete para a classe econômica.
Viajando além da primeira classe
São poucas as companhias que voam para o Brasil com aviões equipados com primeira classe. Além da American Airlines, outros exemplos são alemã Lufthansa e o trio de Oriente Médio, Etihad, Qatar e Emirates Airlines, que oferece o voo mais caro do mercado brasileiro: a passagem de primeira classe no trecho São Paulo – Dubai custa fabulosos R$ 43 mil.
O bilhete de primeira classe da Emirates para Dubai é a passagem aérea mais cara à venda no Brasil
O bilhete de primeira classe da Emirates para Dubai é a passagem aérea mais cara à venda no Brasil
Ainda investindo alto na primeira classe, a Etihad foi além e criou um novo conceito de cabine, a “Residence”(Residência), disponível apenas no gigante Airbus A380 . O espaço, lançado pela companhia em 2014, é como um pequeno apartamento para apenas dois passageiros, com uma sala de estar, quarto com cama, banheiro com chuveiro e serviço de bordo realizado por um mordomo.
O “bilhete de ouro” da Etihad (para duas pessoas) não sai por menos de US$ 20 mil (cerca de R$ 64 mil). A companhia oferece esse serviço em voos com o A380 de Abu Dhabi para os EUA e países da Europa e Oceania.
O segmento também sobrevive no mercado de aviação dos EUA, inclusive em voos regionais. A American Airlines tem primeira classe nos jatos A321 que voam de São Francisco e Los Angeles para Nova York. “A empresa detectou essa demanda nos voos para Nova York, novamente procurado por altos executivos e clientes corporativos”, contou o diretor da AA no Brasil.
Sala de estar na cabine "Residence", da Etihad; bilhete custa mais de US$ 20 mil (Etihad Airlines)
Sala de estar na cabine “Residence”, da Etihad; bilhete custa mais de US$ 20 mil (Etihad Airlines)
Os aviões com cabines de primeira classe que chegam ao Brasil costumam trazer mais passageiros do exterior, do que levar de volta a base original da companhia. Mesmo assim, continuam na ativa, afinal que veio na cabine de alto luxo faz o mesmo no retorno.
Enquanto houver demanda e espaço nos aviões, a primeira classe não vai acabar. Atualmente as companhias, mesmo voando com grandes jatos como o Boeing 747 e o Airbus A380, mantém no máximo 10 assentos na classe de luxo. Em aeronaves menores, como o Boeing 767 ou o A330, o espaço é reduzido para cerca de seis leitos.
Deleite para alguns e ferramenta de trabalho para outros, a experiência e praticidade de viajar de primeira classe só é superada por um voo executivo realizado em jatos luxuosos de alta performance. Quem pode pagar ainda mais, escolhe essa opção.

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