quarta-feira, 18 de maio de 2016

«Sou uma mãe preguiçosa, egoísta e despreocupada»



Sou uma mãe preguiçosa.
Além disso, sou egoísta e despreocupada. Quer saber por quê? Bem, porque quero que os meus filhos sejam independentes, tenham capacidade de tomar iniciativa e desenvolvam o senso de responsabilidade.
Quando eu trabalhava em um jardim de infância, vi vários exemplos de superproteção paterna, mas lembro de um em particular: Sebastian. Sua mão pensava que o garoto precisava sempre comer tudo, do contrário iria emagrecer. Não sei como o menino era alimentado em casa, mas quando ele chegou pela primeira vez à escola, já sofria de uma desordem do apetite. Mastigava mecanicamente e engolia tudo o que lhe dessem, mas era preciso levar a comida à sua boca, porque ’ele não sabe comer sozinho’ (dizia sua mãe). No primeiro dia, eu lhe dava a comida e não via nenhum tipo de emoção em seu rosto: aproximava a colher, ele abria a boca, mastigava, engolia.
Perguntei a ele: «Você gosta de aveia? — «Não»
Ainda assim, abriu a boca e aceitou a comida.
«Quer mais?» — perguntei, levantando a colher. -«Não», — mas continuou mastigando e aceitando. «Se você não gosta, não coma!»
O pobre Sebastian abriu os olhos com surpresa. Ele não sabia que aquilo era possível.
No começo, Sebastian estava feliz por poder decidir o que comer ou não, e comia apenas doce em compota, mas logo passou a comer outras coisas de que gostava, e deixava no prato aquilo que não lhe agradava. Aprendeu a escolher por si só. Depois, deixamos de dar a ele comida na boca, pois comer é uma das necessidades naturais, e um menino faminto irá comer por conta própria.
Sou uma mãe preguiçosa, e sempre tive preguiça de alimentar meus filhos. Quando eles completavam um ano, eu lhes entregava uma colher e me sentava para comer ao seu lado. Quando eles completavam um ano e meio, já sabiam comer com garfo.
Outra necessidade natural é defecar. Sebastian fazia nas calças. Sua mãe havia nos dado a orientação de levar o menino ao banheiro a cada duas horas. «Em casa, eu mesma o levo ao banheiro e deixo-o lá até que ele termine de fazer tudo». Como resultado, no jardim de infância ele esperava que alguém o levasse ao banheiro. Como não conseguia aguentar, molhava as calças sem ao menos tentar tirá-las, e só depois procurava ajuda. Depois de uma semana, o problema estava resolvido.
«Quero ir ao banheiro» — dizia Sebastian orgulhosamente aos outros meninos, sempre que ia ao toalete.
Sou uma mãe preguiçosa. Gosto de dormir até tarde nos fins de semana. Num sábado desses, acordei por volta das 11h. Meu filho de 2 anos e meio estava assistindo desenhos animados e comendo uma torta. Ele mesmo havia ligado a TV, ele mesmo havia encontrado o disco com seu desenho preferido, ligou o aparelho de DVD e se sentou para ver o que queria. A essa altura, o meu filho maior, de 8 anos, já não estava em casa. No dia anterior, ele havia pedido permissão para ir com uns amigos e seus pais ao cinema. Eu disse que tinha preguiça de acordar tão cedo, e que se ele quisesse ir ao cinema, teria ele mesmo que programar o despertador e trocar de roupa. O curioso é que ele fez tudo isso... Claro que eu também havia programado o meu despertador do celular, e pela porta, escutei como ele se vestiu, comeu algo, foi ao banheiro e saiu de casa. Fiquei esperando que a mãe do seu amigo me mandasse uma mensagem, mas certamente a pressa a fez esquecer.
Outra coisa que eu não faço é inspecionar as bolsas dos meus filhos, nem desfazer a mochila do karatê, nem colocar suas coisas para secar depois da aula de natação. Também não faço seus deveres de casa (mas ainda assim, eles vão muito bem na escola). Faz tempo que eu não levo o lixo para a rua, pois meu filho mais velho faz isso quando sai para a escola.
Tenho a cara de pau de pedir a ele que prepare meu café e me entregue onde eu estiver sentada, lendo ou fazendo qualquer outra coisa. Tenho a impressão de que, a cada dia, ficarei mais e mais preguiçosa.
Mas existe uma metamorfose surpreendente que acontece com os meninos quando a avó deles, minha mãe, vem visitar. O mais velho esquece que consegue fazer os deveres sozinhos, que já sabe esquentar a própria comida e organizar sua mochila. Ele até fica com medo de dormir sozinho em seu quarto, a avó precisa estar por perto. Bem, deve ser porque a avó não tem nada de preguiçosa.
As crianças não serão autossuficientes se os pais não quiserem que elas sejam.
Autora: Anna Bykova
Foto: pinterest
Tradução e adaptação: Genial.guru

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