segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Libertem os mamilos

Porque é que as nossas sociedades toleram melhor os mamilos de um homem do que o seu equivalente feminino?



 

O movimento Free the Nipple está a ganhar algum protagonismo no mundo ocidental. Trata-se de um grupo de pessoas, mulheres na sua maioria, que defendem que os seios femininos e masculinos devem ter o mesmo direito de exibição pública. Mais concretamente, lutam pelo direito das mulheres a mostrar os seus mamilos, tal como os homens já fazem em muitos contextos, sem que isso seja social ou legalmente punido.

Porque é que as nossas sociedades toleram melhor os mamilos de um homem do que o seu equivalente feminino? Porque é que um homem, na praia, pode passear-se livremente de peito ao léu sem, por isso, despertar qualquer interesse e uma mulher o faz num clima grandemente envolto de tensão e censura? Mesmo entre as mulheres que se renderam ao top less, vemos que muitas o fazem timidamente deitadas na toalha, como se sentissem que estão a fazer algo errado. Aliás, quando se levantam da toalha cobrem rapidamente os seios, por não se sentir completamente à vontade para os mostrar, em vez de os exibir sem receio do olhar de reprovação ou do olhar descaradamente guloso.

Há países inclusivamente em que a exibição pública dos seios e mamilos femininos é considerada atentado ao pudor, acto punível por lei, enquanto os homens o podem fazer livremente. Um desses países é o Brasil e eu descobri-o da pior maneira. Nas belíssimas praias do Brasil as mulheres estão proibidas de fazer top less. A histeria à volta das mamas e dos mamilos é tão grande que, mesmo em contexto de amamentação, muitas mães são repreendidas ao fazê-lo publicamente. A censura é de tal ordem que alguns estados brasileiros se viram obrigados a multar quem proibisse as mulheres de amamentar publicamente.

A histeria em muito advém da conotação sexual associada a esse órgão mamário e, como acontece em muitos casos, quem paga a factura são as mulheres. O facto de uma mulher mostrar os seios num local público, seja numa zona balnear, seja num banco do jardim enquanto amamenta o seu filho, não pode ser lido como um convite sexual, ou uma agressão à moral e bons costumes. Não quero com esta crónica instigar as mulheres a fazê-lo, apenas defendo que elas o possam fazer se assim o entenderem.

As fronteiras que separam aquilo que é ou não aceitável numa sociedade em termos da sexualidade, corpo e intimidade são muito difíceis de traçar. Trata-se de assuntos que no entender de muitos são exclusivamente do foro privado, mas outros defendem que devem ser regrados e enquadrados do ponto de vista legal. Quanto a isto, se todos, em conjunto, enquanto sociedade, decidirmos que é para tapar os mamilos, pois bem, deem fatos de banho ou biquínis aos homens também!

Socióloga, autora do blog super-mulher

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